Tatuagem com versículo bíblico gera polêmica entre evangélicos e divide opinião nas redes: Reino Church realiza mutirão e reacende debate sobre fé, corpo e tradição
Um vídeo publicado nas redes sociais colocou novamente o tema tatuagem entre cristãos no centro de uma acalorada discussão. Fiéis da Reino Church, igreja localizada em Balneário Camboriú (SC), participaram de um mutirão onde tatuaram no pulso a inscrição “Mt 24:14”, como símbolo de compromisso com a missão evangelística da igreja.
A cena, registrada com trilha sonora moderna, iluminação estilizada e cortes dinâmicos — marca registrada da comunicação visual da igreja — viralizou e levantou reações intensas: de aplausos emocionados à indignação indignada.
O versículo tatuado refere-se ao texto de Mateus 24:14:
“Este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações. E então virá o fim.”
Para os organizadores, a marca é mais do que tinta na pele — é uma “declaração de guerra espiritual” e “identidade profética de uma geração que carrega o evangelho no corpo e na alma”. Segundo eles, a escolha do versículo está ligada ao propósito central da igreja, que é evangelizar o máximo de pessoas até a volta de Cristo.
“O que pregamos, agora também carregamos visivelmente. Somos o grito vivo de Mateus 24:14”, disse um dos membros da equipe de mídia da igreja.
✝️ Fé ou exagero?
Nas redes, a ação dividiu o público. Muitos elogiaram a ousadia da iniciativa e a paixão dos jovens.
“É lindo ver uma juventude marcada por Cristo, literalmente”, escreveu uma seguidora.
“Criticam as tatuagens, mas não dizem nada sobre os escândalos de corrupção em igrejas. Hipocrisia”, apontou outro internauta.
Por outro lado, pastores e líderes de vertentes mais tradicionais reagiram com duras críticas.
“Isso é mundanismo disfarçado de evangelismo. O corpo é templo do Espírito, não outdoor para tatuagem”, comentou um pastor no Instagram.
“Estão misturando paganismo com missão. O próximo passo será o quê? Cruz invertida?”, ironizou outro usuário.
Alguns citaram Levítico 19:28: “Não fareis marca alguma sobre vós.” Porém, teólogos e estudiosos bíblicos destacam que esse texto se refere a rituais funerários pagãos da Antiguidade, e não se aplica diretamente ao contexto moderno, especialmente se a marca tiver intenção de expressar fé.
🕍 A igreja que divide opiniões
A Reino Church, fundada durante a pandemia pelo pastor Eduardo Reis, tem atraído notoriedade (e críticas) por seu estilo ousado, com cultos em ambientes escuros, iluminação de neon, palco elevado, bar de café e soda italiana para os visitantes, além de comunicação totalmente voltada ao público digital. Ministérios com nomes em inglês, vídeos cinematográficos e linguagem informal fazem parte da estratégia para atrair uma geração “ferida pela religião institucionalizada”.
Com mais de 150 mil seguidores no Instagram, a igreja se apresenta como uma “casa para os desigrejados, desviados e desconectados”, e frequentemente contrasta sua abordagem com o que chama de “legalismo farisaico” das igrejas tradicionais.
Mas a mesma estética moderna que atrai jovens tem despertado desconfiança em outros setores evangélicos, que veem na Reino uma mistura perigosa entre fé e cultura pop. A tatuagem coletiva foi apenas mais um estopim.
💬 O que está em jogo?
A polêmica escancara uma tensão cada vez mais evidente no evangelicalismo brasileiro: a disputa entre tradição e inovação, entre conservadorismo doutrinário e formas contemporâneas de expressão da fé.
Afinal, pode-se tatuar um versículo bíblico como testemunho espiritual? É possível ser “radical por Jesus” usando tênis da moda, café gourmet e iluminação de balada? Ou há limites que, quando cruzados, transformam a fé em espetáculo?
Independentemente das opiniões, uma coisa é certa: a tatuagem da Reino Church não foi apenas sobre tinta na pele — foi um manifesto. E como todo manifesto, dividiu o campo e desafiou a zona de conforto da igreja brasileira.
Via Gospel Mais