Postagem viral levanta debate espiritual e político; Mossad reage com ironia nas redes sociais
“Após a recente guerra, algumas folhas de papel foram encontradas nas ruas de Teerã contendo talismãs com símbolos judaicos”, escreveu Ganji em farsi, na rede X (antigo Twitter).
“No primeiro ano da guerra em Gaza, também vazaram informações sobre Netanyahu se reunir com especialistas em ocultismo”, acrescentou.
O episódio citado por Ganji se refere a um conflito de 12 dias entre Irã e Israel, marcado por ataques aéreos, uso de drones, mísseis e ciberataques de ambos os lados. Ele classificou o episódio como um “fenômeno estranho”, alimentando uma narrativa já presente entre setores conservadores iranianos de que nações inimigas usam forças místicas como arma de guerra.
Acusações de guerra espiritual
As declarações não são isoladas. O próprio líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, já afirmou anteriormente que
“os serviços de inteligência ocidentais e israelenses utilizam práticas de ciências ocultas e entidades espirituais com fins de espionagem”.
Esse discurso é amplamente aceito entre facções conservadoras do regime iraniano, que acreditam em uma estratégia de dominação espiritual e psicológica promovida pelo Ocidente — algo que, para eles, faz parte de uma guerra silenciosa e invisível.
Mossad reage com sarcasmo
As alegações de Ganji não passaram despercebidas pelo Mossad, a poderosa agência de inteligência de Israel. Em resposta publicada também em farsi, a conta oficial da agência ironizou:
“Usar drogas e conversar com gênios não são características desejáveis para alguém que lidera um país.”
A provocação ganhou ainda mais repercussão após ser compartilhada pelo diplomata israelense Waleed Gadban, conselheiro da missão de Israel na ONU, que escreveu:
“Jinn, gênios estão por toda parte 👻”.
Mas afinal, o que são os ‘jinn’?
No islamismo, os jinn — ou “gênios”, como são popularmente conhecidos — são seres espirituais invisíveis, criados de “fogo sem fumaça”, segundo o Alcorão. Dotados de livre arbítrio, esses espíritos podem ser benignos ou malignos. A sura 72 do Alcorão é inteiramente dedicada a eles.
Tradicionalmente, os jinn são considerados capazes de influenciar o comportamento humano, causar doenças, possuir corpos e interferir em decisões importantes. Para muitos muçulmanos, sua existência é real e seu poder é levado a sério.
Já no meio cristão — especialmente no ambiente evangélico —, os jinn costumam ser comparados a demônios ou espíritos enganadores, com base em textos como 2 Coríntios 11:14:
“E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz”.
Essa perspectiva reforça a necessidade de discernimento espiritual diante de fenômenos sobrenaturais, mesmo quando associados à política internacional.
Misticismo e geopolítica no Oriente Médio
A presença de elementos espirituais e místicos nas narrativas políticas do Oriente Médio não é novidade, mas o episódio recente evidencia como essas crenças ainda moldam o discurso de autoridades e influenciam a percepção pública dos conflitos armados.
Enquanto isso, o mundo observa como a fé, o oculto e a geopolítica continuam se entrelaçando em um dos territórios mais tensos — e espiritualmente simbólicos — do planeta.