Uma nova pesquisa do Barna Group, divulgada em junho em parceria com a plataforma Gloo, lançou um alerta contundente: a saúde emocional dos pastores evangélicos vive uma crise silenciosa e crítica. O levantamento, realizado nos Estados Unidos, revela um cenário preocupante de sobrecarga, solidão e fragilidade mental entre os líderes espirituais — um retrato que, embora norte-americano, encontra paralelos inquietantes na realidade pastoral brasileira.
Sozinhos no altar
O dado mais alarmante talvez seja este: mais da metade dos pastores (52%) não conta com nenhum tipo de apoio profissional contínuo. Sem mentoria formal, sem acompanhamento psicológico e, em muitos casos, sem sequer um ombro amigo que compreenda a pressão do ministério.
A maioria recorre a redes informais de apoio — mentores pessoais (22%) ou outros líderes espirituais (17%). Apenas 12% disseram fazer terapia. Apoio específico para questões como casamento, saúde emocional ou carreira pastoral é ainda mais raro.
“É como se esperassem que os pastores fossem máquinas espirituais, imunes ao cansaço e à dor. Mas somos humanos. E estamos cansados”, relatou um dos entrevistados, sob anonimato.
O que os números não contam (mas os pastores sentem)
Um dos aspectos mais inquietantes do relatório é o descompasso entre onde os pastores sentem que precisam de ajuda — e onde realmente estão em maior risco. Muitos dizem necessitar de apoio em áreas como liderança, crescimento espiritual e gestão financeira — justamente os pontos onde têm apresentado desempenho acima da média.
Enquanto isso, os aspectos mais frágeis — saúde emocional e relacionamentos — seguem ignorados ou subestimados. Esse desalinhamento pode alimentar ciclos perigosos de isolamento, frustração e esgotamento, especialmente entre os líderes mais jovens.
Insegurança e futuro incerto
O futuro ministerial também é uma fonte de ansiedade. Apenas 1 em cada 5 pastores com menos de 40 anos disse estar totalmente confiante de que conseguirá se aposentar quando desejar. Já 27% planejam deixar o ministério nos próximos 10 anos — um sinal claro da urgência em repensar o cuidado com quem cuida da igreja.
A recomendação do Barna Group é direta: as igrejas precisam investir de forma concreta no bem-estar integral de seus pastores, oferecendo não apenas apoio espiritual e teológico, mas também orientação para aposentadoria, aconselhamento emocional e espaços de descanso.
O reflexo no Brasil
Embora o estudo tenha sido conduzido nos Estados Unidos, os especialistas alertam que o espelho é nítido para o contexto brasileiro. Em milhares de igrejas evangélicas do país, o modelo de liderança concentra funções espirituais, administrativas, financeiras e até sociais sobre uma única pessoa: o pastor. O resultado? Sobrecarga, solidão e um silêncio institucional sobre a saúde emocional no ministério.
“A verdade é que, por trás de muitos púlpitos, há homens e mulheres à beira do colapso. Precisamos parar de romantizar o sofrimento pastoral como se fosse virtude. Cuidar de pastores é proteger a própria saúde da igreja”, afirma um líder evangélico brasileiro, em resposta ao estudo.
Um chamado à igreja
O relatório do Barna é mais do que uma estatística. É um grito abafado que finalmente encontra voz. E sua mensagem é clara: a igreja precisa aprender a cuidar de seus pastores — antes que seja tarde demais.
Porque pastorear é um chamado sagrado. Mas nenhum chamado deve custar a saúde, a família e a sanidade de quem o exerce. A igreja não pode mais ser apenas o rebanho. Ela também precisa ser refúgio.
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