Enquanto a sociedade bombardeia os jovens com mensagens confusas sobre sexo e prazer, muitos cristãos seguem sem respostas claras dentro das igrejas — e sofrem as consequências.
Em um tempo marcado por relacionamentos superficiais, solidão emocional e um mundo hiperconectado, cresce entre os jovens cristãos o anseio por compreender a sexualidade de forma que dialogue com sua fé. Mas, dentro de muitos ambientes eclesiásticos, o tema ainda é tabu. O silêncio, quando não é negação, se transforma em dor, vergonha e desorientação.
“A Igreja, às vezes, não soube ouvir suas perguntas. E quando não há respostas, eles as buscam em qualquer lugar, inclusive na pornografia”, alerta a psicóloga Suzana Stürmer, da Igreja Presbiteriana Renovada – Família da Fé, em São José (SC).
Culpa, ansiedade e confusão
Suzana recebe em seu consultório jovens que chegam carregando pesos que nunca deveriam estar sobre seus ombros. “Carregam culpas desnecessárias por terem desejos naturais, mas também se frustram por não conseguirem expressar sua afetividade de forma madura”, explicou. O resultado: ansiedade, insegurança e uma vida emocional fragilizada.
E o problema não é só entre os cristãos. Uma reportagem da BBC revelou que as novas gerações estão fazendo menos sexo — não por fé, mas por fatores como ansiedade, isolamento, excesso de tecnologia e ausência de vínculos reais. Já nos EUA, a pesquisa General Social Survey revelou que a quantidade de jovens adultos sem vida sexual quase triplicou em dez anos.
Dentro das igrejas, esse quadro é agravado pelo silêncio. Segundo um estudo do Barna Group, 65% dos homens cristãos consomem pornografia mensalmente. Entre as mulheres, o índice é de 15%. E mesmo com esses números alarmantes, o tema continua ausente dos púlpitos.
“Enquanto a igreja continua calada, o mundo segue educando emocional e sexualmente os jovens. E faz isso com distorções graves sobre o que é intimidade, prazer e valor humano”, denuncia Suzana.
Sexo não é inimigo da santidade
Durante décadas, o sexo foi tratado como um inimigo espiritual, um mal a ser evitado. Mas essa visão criou barreiras que nem mesmo o casamento consegue superar. “Homens e mulheres se casam sem saber como integrar o corpo, a alma e o espírito em sua vida conjugal”, afirma a psicóloga.
Ela defende uma nova abordagem — bíblica, sensível e realista. “O Evangelho não anula o corpo, mas o redime. E isso inclui o desejo sexual.”
A Bíblia não foge do assunto. Pelo contrário, textos como Provérbios 5:18-19, Cânticos de Salomão e 1 Coríntios 7 exaltam a beleza da intimidade no casamento. “O corpo é criação divina e o prazer dentro do casamento não é pecado, é bênção”, enfatiza Suzana.
Sexualidade: vocação, não fardo
A sexualidade cristã, ensina Suzana, não deve ser encarada como fardo ou vergonha. Ela é um chamado à comunhão, à entrega e à aliança. “A sexualidade cristã precisa ser reapresentada como vocação, e não como um fardo. Precisamos ensinar os jovens a pensar sobre sexo com reverência, mas também com alegria”, declara.
Para isso, é preciso escutar — de verdade. Criar espaços seguros, onde perguntas não sejam tratadas como rebeldia, mas como sede por sabedoria. “Precisamos criar espaços de escuta verdadeira, onde ninguém se sinta envergonhado por ter perguntas”, completa.
A missão da Igreja
Os jovens estão cansados de repetir padrões que não funcionam. Querem vínculos profundos, fé vivida no cotidiano e relacionamentos com propósito. Mas precisam de direção.
“Querem vínculos sinceros, propósito comum e espiritualidade compartilhada. Mas precisam de orientação e discipulado também nesse aspecto da vida”, afirma Suzana. Ela é categórica: a Igreja tem um papel vital nesse processo.
“O desejo não é errado. O corpo é criação divina. O prazer dentro do casamento é bênção”, relembra — palavras que precisam ecoar mais alto nos púlpitos, nos discipulados e nas conversas honestas.
Em tempos de tanto medo, trauma e confusão, a fé cristã ainda pode reacender o desejo por vínculos verdadeiros, amor que edifica e prazer que glorifica a Deus. “As pessoas estão desistindo do amor por medo, trauma ou cansaço. A fé cristã pode reacender o desejo por vínculos verdadeiros”, conclui.