Tufie Mahfud: O imigrante libanês que ajudou a escrever os primeiros capítulos de Jaraguá do Sul

 No coração de Jaraguá do Sul, entre a movimentação diária da Avenida Getúlio Vargas, um prédio discreto pode passar despercebido. Mas por trás da fachada modesta e da arquitetura funcionalista, sem grandes ornamentos, encontra-se um verdadeiro marco da história do município. Este edifício foi, um dia, sede da Prefeitura e do Fórum, e o palco da trajetória de um homem que desafiou as barreiras culturais de sua época: Tufie Mahfud, um dos poucos imigrantes libaneses a conquistar protagonismo em uma cidade de raízes fortemente europeias.

Tufie Mahfud | Foto: Arquivo Pessoal


Das terras do Líbano para o Vale do Itapocu

Nascido em 18 de fevereiro de 1896, na histórica cidade de Jbeil (antiga Biblos), no atual Líbano, então sob domínio do Império Otomano, Tufie era filho de uma família cristã maronita. Em antigos documentos, aparece registrado como natural da Síria, conforme era comum à época.

Sua jornada migratória começou cedo: chegou ao Brasil com os pais em 1912, viveu na Argentina por um período e, finalmente, retornou ao Brasil em 1919. Em 1925, casou-se com Erna Colin, de origem alemã, e pouco depois fixou residência no então Distrito de Jaraguá, abrindo um tradicional armarinho na Rua Epitácio Pessoa.


Quando o centro do poder cabia em um sobrado

Com o passar dos anos, Tufie se estabeleceu como comerciante respeitado e visionário. Mudou-se para a atual Avenida Getúlio Vargas, onde ergueu o sobrado que viria a abrigar a Prefeitura e o Fórum da cidade. Em 23 de agosto de 1938, por meio de um contrato de locação, as duas instituições passaram a funcionar ali, por 300 réis mensais – valor simbólico para a época.

Antes disso, a ata de instalação do município, emancipado de Joinville em 1934, havia sido lavrada em outro prédio, na Rua Epitácio Pessoa. Mas foi no sobrado de Tufie Mahfud que o poder local ganhou sede temporária – até a construção do prédio definitivo, inaugurado em 1941.

Foto: Arquivo Pessoal

Um legado que ultrapassa paredes

Mesmo após o fim do contrato de locação, o prédio seguiu ativo na vida da cidade, sediando cafés, bares, clubes e partidos. Por ali passaram o Clube Atlético Brasil (posteriormente Baependi), a Farmácia Jaraguá, lojas de móveis, estúdios fotográficos e o diretório do PRP.

Mais do que um endereço comercial, o espaço se tornou ponto de encontro de líderes, empresários e moradores influentes, em um tempo em que a cidade ainda dava seus primeiros passos rumo à urbanização moderna.

Tufie Mahfud faleceu em 1943, mas deixou filhos e netos integrados à sociedade jaraguaense. Em 1979, seu nome foi eternizado em uma rua no Centro da cidade, nas proximidades do Ginásio Arthur Müller – uma homenagem justa a um pioneiro que ultrapassou as barreiras culturais e ajudou a moldar a história local.

Foto: Arquivo

A memória preservada no concreto e no coração da cidade

O sobrado que já foi símbolo de autoridade e progresso, mesmo tendo passado por reformas e mudanças visuais ao longo das décadas, continua carregando em suas paredes parte da alma de Jaraguá do Sul. É um lembrete silencioso de que a construção de uma cidade não depende apenas de grandes nomes, mas de vidas que decidiram fincar raízes, trabalhar com dignidade e deixar um legado de contribuição e respeito.

Prédio à esquerda abrigou a Prefeitura e o Fórum antes de a sede do Poder Executivo migrar para o edifício de Tufie Mahfud | Foto: Divulgação

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