O universo da música cristã contemporânea foi abalado por uma revelação chocante: Michael Tait, ex-vocalista das bandas DC Talk e Newsboys, confessou parte das acusações graves que envolvem abuso de drogas, álcool e condutas sexuais impróprias. Diante do escândalo, o cantor Cory Asbury, autor do hit “Ousado Amor”, fez um desabafo que ecoou em toda a comunidade cristã: “Todos sabiam”.
As declarações de Asbury vieram à tona após reportagens investigativas do The Roys Report e do jornal britânico The Guardian, publicadas no início de junho, revelarem que vários homens — alguns deles menores de idade à época — acusam Tait de abuso sexual, promovido com o uso de drogas e álcool. Um dos depoimentos mais alarmantes relata que Tait teria se masturbado diante de um garoto de 13 anos em um banheiro público.
A confissão e o silêncio
No dia 10 de junho, Tait publicou em seu Instagram uma declaração intitulada “Minha Confissão – 10 de junho de 2025”, admitindo parte dos fatos. “Relatos recentes sobre meu comportamento imprudente e destrutivo, incluindo abuso de drogas e álcool e atividade sexual, são, infelizmente, em grande parte verdadeiros”, escreveu. “Por cerca de duas décadas, usei e abusei de cocaína, consumi muito álcool e, às vezes, toquei homens de forma sensual indesejada.”
Ele também pediu perdão: “Quero pedir desculpas a todos que magoei. Sinto muito mesmo.” No entanto, sua nota não menciona diretamente as acusações que envolvem menores, nem responde aos relatos de agressões sexuais mais detalhadas. Tait afirmou ter deixado os Newsboys em janeiro e concluído seis semanas de reabilitação em Utah.
“Muitos vivem vidas duplas”, alerta Cory Asbury
Foi nesse cenário que Cory Asbury, de 39 anos, fez revelações ainda mais duras. Ao ser questionado se já sabia das denúncias antes das reportagens, respondeu abertamente: “Todos sabiam. Talvez não os detalhes específicos, mas todos sabiam.”
Confrontado sobre quantos artistas do meio gospel vivem de forma semelhante, Asbury não hesitou: “Muitos.” O cantor tem usado as redes sociais, como o TikTok, para denunciar problemas estruturais e hipocrisias dentro da indústria CCM (Contemporary Christian Music).
Suas palavras ganharam força após serem amplamente divulgadas pelo apologista cristão Mike Winger, que escreveu: “Talvez a razão pela qual Michael Tait tenha conseguido escapar impune por tanto tempo seja porque muitas outras pessoas em seu setor também estão conseguindo. E isso resulta em uma cultura em que expor qualquer pessoa é visto como uma ameaça a todos.”
Reações e consequências
A resposta da indústria foi rápida, embora muitos a considerem tardia. Em nota oficial, os Newsboys alegaram surpresa diante das denúncias: “Quando ele deixou a banda em janeiro, Michael confessou para nós e para o nosso empresário que ‘estava vivendo uma vida dupla’. Mas nunca imaginamos que pudesse ser tão ruim.”
Emissoras cristãs como a K-LOVE retiraram as músicas de Tait de suas programações. Outras vozes influentes também se pronunciaram, como Hayley Williams, vocalista da banda Paramore, que cresceu no meio da música cristã e fez duras críticas ao que classificou como um “encobrimento sistêmico”.
“A quantidade de coisas que tenho a dizer e a quantidade de pessoas que conheço que provavelmente foram mudadas para sempre por esse homem e pela indústria que o capacitou…”, escreveu Williams em seu Instagram. “Eu cresci em meio a isso. Não tenho medo de nenhuma dessas pessoas — a maioria delas já me descartou de qualquer maneira.”
E em tom contundente, completou: “Espero que a indústria do CCM desmorone. E f— todos vocês que sabiam e não fizeram porcaria nenhuma. Aposto que entendi. E, a propósito, se vocês também não estão com raiva, talvez seja hora de questionar o porquê.”
Um sistema em crise
Michael Tait construiu sua carreira nos anos 1990 como um dos fundadores da DC Talk, banda vencedora do Grammy, e assumiu os vocais dos Newsboys em 2009, permanecendo até janeiro de 2025. No entanto, seu legado agora é manchado por acusações devastadoras e por uma cultura de silêncio que, segundo Asbury e outros, tem permitido que muitos artistas vivam em completa dissonância com o evangelho que pregam.
A pergunta que paira sobre a indústria cristã é profunda: Quantos mais estão “vivendo uma vida dupla” enquanto lideram ministérios, sob o manto da fama e da religiosidade?
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