O cantor Michael Tait, de 59 anos, conhecido mundialmente por sua trajetória nas bandas cristãs DC Talk e Newsboys, tornou-se o centro de uma grave controvérsia após ser acusado publicamente de abuso sexual, comportamento predatório e uso de drogas por diversos homens — incluindo um que era menor de idade na época dos supostos fatos.
As denúncias vieram à tona após uma investigação de vários meses conduzida pelo jornal britânico The Guardian, que entrevistou ao menos 25 pessoas ligadas à cena da música cristã contemporânea (CCM). O relatório revelou relatos de abuso que teriam ocorrido entre os anos 2000 e 2010.
Acusações envolvendo menores e uso de drogas
Segundo a reportagem, as vítimas tinham entre 13 e 29 anos na época dos supostos abusos. Os episódios incluem alegações de agressões sexuais, fornecimento de álcool e drogas a menores, e episódios de toques não consentidos em contextos privados e de bastidores da indústria musical cristã.
Shawn Davis, uma das vítimas que autorizou a divulgação de seu nome, relatou ter conhecido Tait aos 16 anos, em 2003. Ele afirmou que o cantor lhe ofereceu bebidas alcoólicas e o introduziu ao uso de cocaína. Segundo Davis, no ano seguinte, foi dopado e violentado sexualmente por Tait. “Esse homem destruiu minha vida”, desabafou ao The Guardian.
Outro denunciante, identificado apenas como “Gabriel”, contou ter sido abusado aos 19 anos, após suspeitar que também foi drogado. Ele descreveu o choque ao perceber que o cantor, amplamente reconhecido por sua imagem pública de fé e santidade, levava uma vida dupla. “Isso me fez abandonar minha fé por um tempo”, confessou.
Israel Anthem, cinegrafista que conheceu Tait ainda criança, afirmou que o artista o assediou sexualmente quando ele tinha apenas 13 anos. Ele também declarou ao site The Roys Report que os bastidores da indústria sabiam das atitudes de Tait, mas que muitos preferiram silenciar. “Existem três tipos de pessoas: aquelas que conhecem as histórias, aquelas que acreditam nelas, e aquelas que, mesmo conhecendo a verdade, continuam a trabalhar com ele”, disse.
Confissão pública de Tait
Em 10 de junho de 2025, Michael Tait usou seu perfil no Instagram para publicar uma carta de confissão, intitulada “Minha Confissão — 10 de junho de 2025”. No texto, o cantor reconheceu a veracidade de muitas das acusações. “Relatos recentes sobre meu comportamento imprudente e destrutivo, incluindo abuso de drogas, álcool e atividade sexual, são, infelizmente, em grande parte verdadeiros”, escreveu.
Tait também admitiu ter vivido uma “vida dupla” durante anos e que, por vezes, teve “comportamentos sensuais indesejados” com outros homens. Embora conteste detalhes específicos, declarou que não discorda da essência das denúncias. “Sinto muito mesmo. Peço perdão às pessoas que feri”, afirmou.
O cantor disse ainda que deixou o Newsboys em janeiro de 2025 para buscar tratamento. Passou por um programa de reabilitação de seis semanas em Utah, nos Estados Unidos.
Reações da banda Newsboys e da comunidade cristã
Após a publicação da confissão, os membros do Newsboys divulgaram uma nota expressando surpresa com a gravidade das acusações. “Michael confessou que estava vivendo uma vida dupla, mas não imaginávamos que a situação fosse tão séria”, declararam.
O caso gerou forte repercussão também fora do meio cristão. Hayley Williams, vocalista da banda Paramore e ex-integrante da cena musical de Nashville, criticou duramente a cultura de silêncio que, segundo ela, permeia a indústria da música cristã contemporânea (CCM). “Casos como este são reflexo de décadas de pecados acobertados. Espero que a indústria do CCM desmorone”, afirmou em suas redes sociais.
Contexto e histórico de denúncias
As novas revelações reforçam um relatório anterior publicado pelo site The Roys Report no início de junho, que já apontava condutas predatórias por parte de Tait com base em depoimentos de mais de 50 fontes.
Este escândalo soma-se a outras denúncias recentes que têm abalado a credibilidade de artistas e líderes ligados ao meio gospel nos Estados Unidos, levantando discussões profundas sobre prestação de contas, cultura de encobrimento e a necessidade de políticas mais rigorosas de proteção a vítimas dentro das comunidades de fé.
O caso permanece em investigação por autoridades norte-americanas, e novas denúncias ainda podem surgir nos próximos dias.