Embora a IA prometa eficiência e segurança, seu avanço convive com o aumento da depressão, ansiedade e crises existenciais em nossa sociedade.
Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem o seu corpo entre si...
— Romanos 1:22-24
Vivemos tempos em que a sabedoria humana, embora mais tecnológica do que nunca, parece cada vez mais desconectada da essência da vida. A promessa de que a tecnologia — especialmente a Inteligência Artificial (IA) — nos tornaria mais eficientes, seguros e até felizes, contrasta com os crescentes índices de depressão, ansiedade, vazio e confusão existencial.
As palavras do apóstolo Paulo em Romanos descrevem com lucidez o que acontece quando a criação se desconecta do Criador: surge um vácuo espiritual, acompanhado de desordem emocional e frouxidão moral. A Bíblia nos alerta:
"O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria."
— Provérbios 18:1
A crise da razão: quando a fantasia substitui a realidade
A dificuldade de lidar com perdas, frustrações e a ausência de vínculos significativos tem levado muitos a recorrer a substitutos simbólicos ou fantasiosos. Embora frequentemente impulsionados por dores legítimas, esses comportamentos revelam um colapso no senso de realidade e identidade:
Bebês reborn e a distorção do cuidado
Há relatos de pessoas buscando atendimento médico para bonecas hiper-realistas, investindo grandes somas em roupas, acessórios, festas de aniversário e até viagens internacionais para elas. Alguns chegam a disputar judicialmente a "guarda" dessas bonecas. Mais do que excentricidade, isso aponta para a tentativa de compensar perdas emocionais profundas e buscar controle onde houve ruptura.
Vícios digitais e endividamento
O vício em jogos online, apostas e consumo de bens virtuais tem desestruturado famílias. O desejo de escapar de uma vida frustrante por meio de gratificações rápidas revela uma alma inquieta, que substitui o real pelo ilusório. A gratificação imediata se tornou o vício da pós-modernidade, que luta contra Deus e se entrega descontroladamente a seus próprios desejos.
Identidades em colapso
A crescente onda de pessoas que se identificam com animais ou objetos — além da metáfora — pode representar uma fuga radical da realidade humana. Isso não deve ser tratado com escárnio, mas com um olhar pastoral que discerne a dor por trás da ruptura identitária. É um clamor por atenção, significado e pertencimento.
Terapia com máquinas
Adolescentes e adultos têm buscado alívio emocional em chatbots e aplicativos de IA. Embora essas ferramentas ofereçam respostas rápidas, carecem do essencial: amor, empatia e verdade redentora.
Nota pastoral:
Por trás de comportamentos extremos, quase sempre há uma história de dor, abandono ou desenraizamento. O papel da Igreja é compreender, acolher e oferecer esperança, conduzindo essas pessoas a um relacionamento com o Criador e ao convívio com o próximo. Muitas vezes, isso envolve também o acompanhamento com profissionais da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras.
A raiz do caos: rejeição a Deus e idolatria do eu
A Bíblia ensina que o coração humano, afastado de Deus, volta-se para si mesmo, tornando-se "amante de si" (2 Tm 3:2). Isso gera confusão moral, solidão e a substituição do divino por ídolos modernos: ideologias, objetos, estilos de vida ou tecnologias.
"Meu povo foi destruído por falta de conhecimento..."
— Oséias 4:6
Não se trata de ignorância acadêmica, mas da ausência de sabedoria espiritual, que só é alcançada em comunhão com o Criador. Como disse Richard Wurman:
“O impacto da mensagem se perde quando o leitor é distraído pela informação que não está presente.”
O excesso de informação não gera conhecimento, mas distração. Vivemos em tempos em que todos sabem tudo, mas poucos vivem com propósito. Sobreviver não é viver. Presumir não é conhecer. A fantasia em excesso conduz a rotinas distópicas, egoístas e, por fim, solitárias.
Nota pastoral:
Todo ser humano carrega em si um anseio pelo transcendente. Quando esse anseio não é satisfeito em Deus, é redirecionado para substitutos — pseudodeuses e pseudofamílias — que geram solidão. A fé nos reconecta ao Criador, restaura nosso sentido de identidade e promove cura verdadeira.
"Deus faz que o solitário more em família..."
— Salmos 68:6
A armadilha da solidão e a ilusão da autossuficiência
A Inteligência Artificial pode simular empatia, mas jamais substituirá a experiência de ser amado por uma pessoa real.
Pesquisas do psiquiatra Manfred Spitzer e da psicóloga Jean Twenge apontam que os jovens de hoje são os mais solitários da história. A Bíblia já antecipava isso:
"Não é bom que o homem esteja só."
— Gênesis 2:18
Fomos criados para o encontro, para a comunhão, para viver em família. A solidão moderna, disfarçada por conexões digitais, revela um clamor por relacionamentos reais e curadores.
O inimigo, conhecedor dessa fragilidade, tem promovido substituições artificiais — vínculos distorcidos, relações efêmeras e modelos alternativos de família — para desconstruir o projeto original de Deus: homem e mulher em amor, comunhão e propósito.
Nota pastoral:
A saúde mental começa com vínculos humanos e espirituais verdadeiros. Relações curadoras exigem presença, escuta, verdade e amor.
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor..."
— 1 Coríntios 13:1
Como igreja, devemos criar espaços seguros de escuta e acolhimento. A solidão se vence no corpo de Cristo, com discipulado e cuidado mútuo.
Restauração: voltar à fonte da identidade
A resposta não está no excesso de estímulo ou inovação, mas na reconexão com o Criador. Deus é a fonte da nossa identidade, propósito e dignidade. Quando o rejeitamos, perdemos a direção.
A Bíblia oferece caminhos concretos de restauração:
- Identidade em Cristo: "Se alguém está em Cristo, é nova criatura..." (2 Co 5:17)
- Paz Interior: "Deixo-vos a paz..." (Jo 14:27)
- Família como alicerce: "Deixará o homem pai e mãe..." (Gn 2:24)
- Comunhão como antídoto: "Melhor é serem dois do que um..." (Ec 4:9)
- Sabedoria do alto: "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." (Pv 9:10)
Nota pastoral:
A restauração da mente e do coração começa com um passo: reconhecer que precisamos de Deus. Arrependimento é voltar à origem — ao Criador.
"O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará."
— Salmos 23:1
Reencontrando o Norte em tempos de caos
A fé cristã não apenas alivia o espírito, mas realinha a alma e as emoções.
Dr. John Cacioppo mostrou que a solidão crônica pode ser tão letal quanto fumar. Dra. Susan Pinker demonstrou que laços sociais preservam a saúde mental. Jonathan Sacks dizia:
"A fé combate a solidão ao nos integrar a uma história maior do que nós mesmos."
Como o filho pródigo (Lucas 15:17-20), esta geração precisa "cair em si", abandonar a autorreferência e voltar para a casa do Pai.
"A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma..."
— Salmos 19:7-8
A IA pode ser útil, mas nunca será mãe, amigo ou Salvador.
"Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus."
— Salmos 46:10
Nota pastoral final:
Que sejamos pontes entre a dor das pessoas e a graça de Deus. Sejam quais forem os sintomas modernos, a resposta é a mesma: o Deus que chama pelo nome, acolhe com compaixão e transforma com poder.
Maranata! Ora vem, Senhor Jesus!
Fernando Moreira (@prfernandomor) é pastor na Igreja Batista do Povo em Americana - SP. Bacharel em Ciência da Computação e Teologia. Mestre em Ciência da Computação. MBA em Vendas, Marketing e Geração de Valor. Doutor em Teologia. Membro da Academia de Letras, Artes e Cultura do Brasil. Mentor de alunos de MBA, executivo de tecnologia, orientador de carreiras, conselheiro administrativo, palestrante, conferencista e autor de vários livros.
Fonte: Guia-me/Fernando Moreira
(Foto: Pexels/ThisIsEngineering)