Um homem, dois títulos bombásticos: “o Mahdi esperado pelos muçulmanos” e o “verdadeiro papa” escolhido por Deus. Assim se apresenta Abdullah Hashem Aba Al-Sadiq, conhecido como Abdullah Hashem — figura que, desde o domingo de Páscoa, 20 de abril de 2025, tem gerado inquietação religiosa e especulação global.
Hashem, cidadão norte-americano com raízes muçulmanas, cristãs e judaicas, afirma sem rodeios:
“Sou o sucessor de Maomé e de Ahmed, bem como de Pedro e de Jesus Cristo. Sou o verdadeiro e legítimo papa”.
Suas declarações ganharam força justamente no momento mais delicado da Igreja Católica nos últimos anos: a morte do Papa Francisco, anunciada pelo Vaticano em 21 de abril de 2025. Coincidência? Para o grupo de Hashem, não. Em nota, seus seguidores afirmam:
“A vacância do trono papal não é um acaso, mas um sinal divino: chegou a hora de o herdeiro legítimo assumir sua posição”.
Entre o delírio e a profecia: quem é esse “herdeiro”?
Nascido em Indiana (EUA), Hashem se apresenta como o "filho do Oriente e do Ocidente". Criador da organização AROPL (Ahmadi Religion of Peace and Light), com presença alegada em 40 países, ele promove a ideia de um “Estado Justo Divino” que rejeita a democracia e propõe uma teocracia global — com ele no trono.
Segundo seus seguidores, ele já teria cumprido dez profecias islâmicas, incluindo a morte do rei Abdullah da Arábia Saudita em 2015, e seria o “sol que nasce no Ocidente”, alusão a um antigo sinal escatológico. O movimento afirma que Hashem é o nomeado por Deus para liderar uma nova fé unificada entre muçulmanos, cristãos e judeus.
A novidade? Essa suposta “aliança final” incluiria até a comunidade LGBTQ+, algo impensável no islamismo tradicional — o que coloca Hashem na mira tanto de conservadores religiosos quanto de teólogos tradicionais.
Igrejas como palco e o YouTube como púlpito
Com cerca de 70 mil inscritos em seu canal no YouTube, Hashem grava vídeos em locais sagrados e fala com tom messiânico. Seus seguidores vêm espalhando a mensagem em frente a igrejas de países como EUA, México, Colômbia, Alemanha, Vaticano e até Bangladesh, proclamando que Hashem é o "novo papa escolhido por Deus”.
Ele também não poupa críticas ao cristianismo tradicional, afirmando que a doutrina da Trindade foi inventada por Constantino no Concílio de Niceia. Para justificar, recorre à oração judaica do Shemá:
“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”, defendendo o monoteísmo absoluto e acusando igrejas modernas de traição às Escrituras.
A resposta cristã: alarme escatológico
A reação foi imediata: pastores, padres e teólogos citaram passagens como Mateus 24 para alertar contra possíveis falsos profetas.
“Acautelai-vos, que ninguém vos engane; porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos.”
Ainda assim, muitos veem em Hashem um fenômeno curioso, mas inofensivo — embora seu discurso esteja cada vez mais organizado, articulado e globalizado. Ele responde chamando seus opositores de “agentes da desinformação” e se diz portador de uma missão recebida diretamente de Jesus.
Mahdi ou impostor?
Na escatologia islâmica, o Mahdi é o redentor final que surge no fim dos tempos, ao lado de Issa (Jesus), para vencer o falso messias. A AROPL afirma que Hashem já cumpre esse papel — e que o momento é agora.
A pergunta que incomoda o mundo religioso: e se ele realmente não for só um charlatão?
Com sinais apocalípticos cada vez mais mencionados por líderes religiosos e o colapso de estruturas tradicionais, figuras como Abdullah Hashem representam mais que apenas um personagem exótico. Eles são o sintoma de um tempo instável, confuso e sedento por líderes “divinos”.
“Se, pois, vos disserem: Eis que ele está no deserto! não saiais. Eis que está no interior da casa! não acrediteis. Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.” (Mateus 24:23-25)