Em um cenário global cada vez mais atento às violações dos direitos humanos, a Anistia Internacional escancarou uma realidade chocante: a China segue como o país com o maior número estimado de execuções no planeta. O relatório anual da entidade, divulgado em maio de 2025, não poupa palavras ao denunciar a opacidade brutal do sistema penal chinês, onde execuções ocorrem sob o véu do sigilo absoluto.
Embora os números exatos sigam envoltos em mistério, a Anistia alerta: milhares podem ter sido mortos pelo Estado chinês em 2024. “O uso da pena de morte permanece marcado por injustiças profundas e é frequentemente usado como ferramenta de controle social e político”, denuncia o relatório.
Com pelo menos 1.518 execuções confirmadas no mundo, 2024 foi o ano com maior número registrado pela Anistia em uma década, representando um aumento alarmante de 32% em relação a 2023. E isso sem contar os dados da China, Coreia do Norte e Vietnã — três nações onde o silêncio institucional oculta a verdadeira dimensão da barbárie.
Execuções secretas e perseguição religiosa
O relatório aponta que, na China, a pena de morte ainda é aplicada até mesmo para crimes ligados a drogas — em flagrante desrespeito às diretrizes do direito internacional. Ainda mais grave: a Anistia denuncia execuções de minorias religiosas, incluindo cristãos, muçulmanos uigures e praticantes do Falun Gong, sob acusações que incluem até extração e comercialização de órgãos.
Segundo a organização, a repressão vai além: campos de detenção abarrotados com milhões de uigures representam um cenário de horror silenciado pelo regime. O uso da pena capital é descrito como “extensivo e secreto”, o que, segundo a entidade, distorce a percepção mundial sobre os verdadeiros rumos da pena de morte.
Irã e Arábia Saudita também lideram
Excluindo a China, o Irã assume a segunda colocação entre os maiores carrascos oficiais do mundo, com ao menos 972 pessoas executadas — o equivalente a quase dois terços das execuções globais documentadas. O regime iraniano, segundo a Anistia, usou a pena de morte para calar dissidências religiosas e reprimir manifestantes ligados ao movimento “Mulher, Vida, Liberdade”. Um dos casos mais revoltantes é o de uma jovem de 23 anos com deficiência mental, executada após um julgamento considerado “grosseiramente injusto”.
Na Arábia Saudita, o número de execuções mais que dobrou em relação a 2023, totalizando 345 mortes. O relatório afirma que o regime usou a pena de morte como arma contra opositores políticos e minorias xiitas, citando o caso de Abdulmajeed al-Nimr, executado em agosto de 2024, inicialmente acusado de participar de protestos, mas depois enquadrado como “terrorista”.
Além disso, a Anistia relembra: blasfêmia e apostasia seguem sendo crimes puníveis com morte no país, onde a prática pública de qualquer fé fora do islamismo é terminantemente proibida.
Avanços em meio ao retrocesso
Apesar da escalada das execuções, o relatório destaca um dado esperançoso: apenas 15 países confirmaram o uso da pena de morte em 2024, o menor número da história pelo segundo ano seguido. Ao final do ano, 145 nações já haviam abolido a pena capital por lei ou na prática.
Entre os avanços, a Malásia permitiu a reversão de sentenças de morte para mais de mil condenados, e o Zimbábue eliminou a pena capital para crimes comuns — reflexos de uma tendência que vem se fortalecendo na África desde 2021.
Estados Unidos sob pressão
Nos Estados Unidos, 25 execuções ocorreram em 2024, com destaque para o Alabama, que triplicou o número de mortes e introduziu o gás nitrogênio como método de execução — prática considerada potencialmente torturante por especialistas da ONU. Quatro estados americanos retomaram as execuções após anos de interrupção: Carolina do Sul, Geórgia, Utah e Indiana.
A luta continua
A Anistia reforça que, sob regimes autoritários, a pena de morte segue sendo um mecanismo cruel de repressão política e perseguição religiosa. Ela atinge, sobretudo, os mais vulneráveis — pobres, minorias étnicas e religiosas — e não apresenta qualquer evidência de eficácia no combate ao crime ou ao narcotráfico.
Ainda assim, há resistência. Em 2024, mais de dois terços dos Estados-membros da ONU votaram a favor de uma moratória global da pena de morte. Campanhas internacionais também conseguiram reverter condenações em casos de grande repercussão, segundo informações do The Christian Post.
Diante dessa realidade, ecoa com ainda mais força a promessa contida nas Escrituras:
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”
(Mateus 5:6)