O palestino Khalil Sayegh, cristão evangélico nascido em Gaza e atualmente vivendo nos Estados Unidos, compartilhou um relato comovente sobre os efeitos devastadores da guerra em sua família e na pequena comunidade cristã local. A declaração foi feita em 21 de maio, durante sua participação no podcast Inside The Epicenter, produzido pela organização cristã Joshua Fund.
Em conversa com Joel Rosenberg, editor-chefe dos sites ALL ARAB NEWS e ALL ISRAEL NEWS, Sayegh falou abertamente sobre o sofrimento vivido pelos cristãos em Gaza, as consequências diretas da violência e as possíveis alternativas para um cenário futuro pós-Hamas.
“A situação é muito grave”, afirmou. “Estamos falando de menos de 600 cristãos restantes em Gaza. Antes, eram 1.500. Aqueles que conseguiram sair já partiram, em maio”.
O cenário de deslocamento forçado e a ameaça de extinção da presença cristã na região levantam, segundo Sayegh, questionamentos profundos de ordem espiritual e ética.
“Eu me pergunto… devemos defender a saída deles? Talvez devêssemos simplesmente ir até o governo Trump e dizer a eles: ‘Escutem, há apenas 600 cristãos em Gaza. Preferimos que eles saiam e prosperem em outro lugar do que todos eles morram’. … Não sei qual é a vontade ou o plano de Deus para nós”.
Seu relato é marcado por experiências pessoais de dor. Estando nos Estados Unidos no momento em que o Hamas lançou o ataque contra Israel, em 7 de outubro de 2023, ele contou que, no dia seguinte, sua família teve a casa bombardeada e buscou abrigo em uma igreja — um dos poucos locais ainda considerados seguros para cristãos.
“Perdi tantas pessoas nesta guerra. Colegas de classe, amigos — muçulmanos e cristãos — e familiares”, desabafou. “Quando o bombardeio da igreja aconteceu em 23 de outubro, perdi primos, a maioria bebês. … Depois, um atirador atacou a igreja católica em Gaza, e meu pai faleceu. … E minha irmã mais nova, Lara, que tinha acabado de completar 18 anos, morreu enquanto evacuava a pé para o Egito. Ela simplesmente desmaiou. Não sabemos o que aconteceu”.
Apesar do sofrimento, Sayegh demonstrou compreensão do contexto político e militar. Segundo ele, o agravamento da crise era previsível diante das ações do Hamas e de falhas estratégicas dos dois lados do conflito.
“Pessoalmente, acredito que dois cenários, os mais prováveis, aconteceram. Um, que [Yahya] Sinwar estava embriagado de poder e pensou que poderia obter reféns e forçar Israel a um acordo. O segundo, que Irã, Hezbollah e Síria lançariam um ataque conjunto, pegando Israel desprevenido enquanto os EUA estavam distraídos na Ucrânia. Ambos foram erros de cálculo completos”.
Ele também criticou a política israelense de “gestão do Hamas”, argumentando que o governo de Benjamin Netanyahu confiou demais na ideia de que o grupo poderia ser controlado para conter avanços rumo a um Estado palestino.
“Israel se acostumou com a ideia de que o Hamas poderia ser administrado. Havia uma sensação de que, se simplesmente dessem dinheiro ao Hamas — dinheiro do Catar chegando em malas —, Gaza ficaria quieta”.
O próprio Rosenberg complementou a análise: “O governo israelense via o Hamas como uma tensão a ser administrada”.
Segundo Sayegh, os recentes acontecimentos provocaram uma mudança significativa na opinião pública dentro de Gaza. Uma pesquisa apontou que 48% da população apoia protestos contra o Hamas — um dado inédito em uma cultura onde a “resistência” sempre foi vista como sagrada.
“Até mesmo esse número provavelmente é maior. Dezenas de milhares marcharam em Beit Lahia com slogans dizendo: ‘Nós somos a resistência’. Isso é inédito. Mas agora as pessoas estão dizendo: se isso custar nossos filhos, somos contra”.
Essas manifestações, observou ele, revelam um sentimento coletivo de esgotamento diante do ciclo contínuo de violência e destruição.
Diante do colapso da infraestrutura civil em Gaza, Sayegh defendeu um plano de reconstrução liderado por palestinos, com o respaldo de nações árabes. Em sua visão, a Autoridade Palestina deveria assumir a transição para um novo governo, com apoio do Egito e da Arábia Saudita.
“O Hamas deve ser desmantelado e o policiamento deve ser feito com apoio árabe”, defendeu. Quando questionado por Rosenberg se haveria disposição dos países árabes para tal esforço, ele respondeu: “Sim, mas duas condições devem ser cumpridas. Primeiramente, a Autoridade Palestina deve convidá-los. Segundamente, Israel deve se comprometer com um plano político — algo como a Iniciativa de Paz Árabe liderada pela Arábia Saudita”.
Mesmo diante de tantas perdas, Sayegh concluiu sua participação com uma declaração de fé, sustentando sua esperança não no otimismo humano, mas na soberania divina:
“Não sei o que o futuro nos reserva, mas creio que o Senhor continua soberano”, afirmou, segundo o The Christian Post.