Após intensa articulação nos bastidores do Congresso Nacional, a oposição na Câmara dos Deputados alcançou uma vitória estratégica: conseguiu reunir as 259 assinaturas necessárias para que o Projeto de Lei que concede anistia aos condenados pelos atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023 tramite em regime de urgência. Agora, a decisão sobre levar ou não o tema à votação recai exclusivamente sobre o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB).
A urgência foi requerida pelo líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), e sua aprovação significa que o projeto pode ser levado diretamente ao plenário, sem a necessidade de passar pelas comissões temáticas da Casa – um atalho que pode acelerar, e muito, o destino da proposta. No entanto, a tramitação em urgência ainda precisa ser aprovada pelos deputados em plenário, com ao menos 257 votos favoráveis.
O projeto, que já movimentava os bastidores, ganhou as ruas. No último domingo (6), uma manifestação massiva em defesa da anistia reuniu cerca de 45 mil pessoas na Avenida Paulista. O ato, organizado pelo pastor Silas Malafaia, contou com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de diversos aliados, tornando-se um marco de pressão pública sobre o Congresso.
A mobilização extrapolou o campo político e chegou às igrejas. No dia 31 de março, duas das principais entidades evangélicas do país – a Confederação Nacional dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab) e o Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp) – lançaram um manifesto conjunto em apoio ao PL 2.858/2022. Já o deputado federal e pastor Otoni de Paula (MDB-RJ), ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, iniciou uma campanha de oração batizada de “7 Semanas de Clamor pelos 3 Poderes da Nação”, convocando fiéis a intercederem espiritualmente pela aprovação da anistia.
Mas a proposta segue longe de ser consenso. Pesquisa recente da Quaest, encomendada pela Genial Investimentos e divulgada no mesmo domingo (6), revela que 56% dos brasileiros são contrários à anistia. Outros 34% são favoráveis, e 10% não souberam ou não quiseram responder. O levantamento ouviu 2.004 pessoas entre os dias 27 e 31 de março, com margem de erro de dois pontos percentuais e 95% de confiança.
Enquanto isso, o país acompanha atento os próximos capítulos dessa novela política que divide opiniões e promete esquentar ainda mais os ânimos em Brasília. A pergunta que paira no ar: o presidente da Câmara colocará ou não o pedido de urgência em pauta?