Em meio a um crescente questionamento sobre a vida após a morte, o pastor e teólogo John Piper surpreendeu os ouvintes de seu podcast ao responder uma dúvida que inquieta muitos cristãos: será que a eternidade no Céu pode, em algum momento, se tornar entediante?
A pergunta veio de Mason, um ouvinte que, apesar de sua fé, confessou enfrentar dificuldades em compreender a ideia de um tempo sem fim. “Pastor John, tenho lutado com o conceito de eternidade ultimamente”, disse. “Mesmo depois de ler o livro de Randy Alcorn sobre o Céu, continuo com dificuldades para imaginar como não ficaremos entediados depois de trilhões de anos.”
Com a franqueza que marca suas reflexões teológicas, Piper reconheceu a profundidade do dilema. “Não há dúvida de que a eternidade — quer a concebamos como um tempo sem começo nem fim, quer a concebamos como uma dimensão além do tempo — é difícil de entender. Quer dizer, eu nem sei o que significa entender quando se trata de algo assim”, afirmou.
Para ilustrar essa limitação humana, o pastor citou Eclesiastes 3:11: “Deus colocou a eternidade no coração do homem, mas de tal forma que ele não pode descobrir o que Deus fez do princípio ao fim”. Piper interpretou esse versículo como uma evidência de que “Deus pretende que tenhamos consciência de uma realidade de um tipo de tempo eterno ou não-tempo que não é totalmente compreensível”.
Ele também evocou a célebre frase de C.S. Lewis: “Se encontro em mim um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para outro mundo”.
Apesar do mistério em torno da eternidade, Piper garante: o Céu será tudo, menos monótono. “Você nunca perderá a capacidade de ver a glória, se maravilhar, se revigorar, se emocionar para sempre”, declarou, ao comentar o corpo glorificado descrito em 1 Coríntios 15 — um corpo ressuscitado “em glória” e “espiritual”.
Ele também recorreu à descrição da nova Jerusalém em Apocalipse 21:18 — “ouro puro, semelhante a vidro límpido” — como uma tentativa divina de transmitir, ainda que de forma limitada, a grandiosidade da eternidade. Citando Jonathan Edwards, destacou que esse ouro é algo sem equivalente terreno, sugerindo que “não há nada na Terra que seja suficiente para representar para nós as glórias do Céu”.
A oração de Jesus em João 17:24–26 também foi usada para ilustrar a dimensão relacional e amorosa da eternidade. Piper destacou o versículo 26: “‘O amor com que me amaste esteja neles’”, questionando: “Não é esta uma oração que Deus Pai nos dará… a capacidade de amar e desfrutar de Deus Filho com a mesma capacidade que o Pai tem de amar o Filho, que é infinita?”
Segundo o pastor, essa experiência de amor eterno será uma extensão da própria comunhão da Trindade. “A capacidade que manteve a Trindade em felicidade infinita por toda a eternidade será compartilhada conosco”, afirmou com convicção.
Em outros episódios de seu podcast, Piper tem levantado alertas sobre a perda de compreensão bíblica a respeito do Céu e do Inferno, especialmente entre cristãos americanos. Ele citou uma pesquisa da Gallup de 2023, que apontou uma queda significativa na crença na existência do Céu — de 83% em 2001 para 67% em 2023.
Outro dado preocupante, segundo o pastor, vem de uma pesquisa de 2020, que revelou que mais da metade dos cristãos nos EUA acreditam que boas obras são suficientes para alcançar o Céu, e um terço dos pastores seniores acreditam que apenas “ser uma boa pessoa” pode garantir a entrada na eternidade com Deus.
Mas a resposta de Piper não se limita à dimensão espiritual e emocional. Ele também defende que haverá trabalho no Céu — um trabalho restaurado, pleno e gratificante. “Será um trabalho profundamente satisfatório, doce e agradável. Ninguém no mundo vindouro dirá: ‘Preciso de um fim de semana’”, declarou.
Essa visão é compartilhada por outros líderes cristãos, como o pastor Jack Hibbs, fundador da Calvary Chapel Chino Hills, na Califórnia. Para ele, o Céu será um lugar de “descoberta sem fim”. Em suas palavras: “Deus criou você com uma paixão avassaladora por descobertas. É o que impulsiona todas as ciências, todas as disciplinas. É o que impulsiona a curiosidade. E o Céu será assim para nós.”
Em um tempo em que até a eternidade parece estar em xeque, vozes como a de John Piper ecoam como um chamado à esperança — e à certeza de que o Céu, longe de ser entediante, será o auge da alegria, da beleza e da plenitude.